sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Notícias de cá

Faz tanto tempo que estou pra te escrever, mas sempre vai ficando pra amanhã e parece que amanhã nunca chega. Hoje é sexta e em casa tem festa, e enquanto os amigos não chegam, eu aproveito pra te contar uma novidade. Pai, eu vou me casar novamente. Na mesma data do primeiro casamento e com a mesma pessoa. Há seis anos eu que pedi o Hugo em casamento, agora foi ele quem quis casar. É que a gente passou por tanta coisa, pai. Tanta! Mil vezes a gente se apaixonou e desapaixonou - um pelo outro e cada um de nós por outras duas pessoas. Outro dia ouvi num seriado de tv um personagem dizendo que a relação a dois se resumia em jardineiro e flor. Um que cuida e outro que é cuidado. Nesses seis anos fomos, os dois, muito flor. Faltou cuidado, sabe. E o recasamento surgiu da vontade de nos dar mais uma chance - não uma chance preguiçosa, mas uma chance de verdade -, queremos acreditar que pode sim dar certo. Vamos escrever um documento com várias cláusulas, que são as nossas vontades para essa nossa fase nossa. Vamos assinar, e os nossos padrinhos também. A cerimônia vai ser aqui em casa mesmo, coisa simples, eu nem vou me vestir de Greta Garbo dessa vez, mas vou colocar um vestido bem bonito e uma sandália baixinha. Tô até pensando já como vai ser, mas vou comprar o vestido uma semana antes da data, porque já decretei regime e estou fazendo exercício todos os dias, pra ficar bem bonita no dia. É, eu tô bem gordinha, pesando 59kg. Até o dia 27/10 pretendo chegar nos 54. Será que consigo? Eu tenho que comer menos Nutella e mais rúcula.

Um pouco depois de você partir, nos mudamos pra Fortaleza, foi uma das últimas notícias que você teve. E lembro que, ainda no hospital quando te contei, torceu o nariz. Me disse que eu combinava com a garoínha da nossa terra. Passou um ano, pai, o Hugo ficou deprimido na cidade do sol e decidimos voltar. Daí, mil coisas aconteceram. Hoje moramos no Ipiranga, o bairro do qual você sempre dizia que só sairia no caixão. O bairro mais são-paulino que eu conheço. Aliás, nosso time está numa fase incrível, dá gosto de assistir aos jogos. Semana passada Nara me pediu uma camiseta do São Paulo e eu sorri e, claro, pensei em você. Você teria muito orgulho da sua neta, pai, tenho certeza. Quase te vejo passeando no Parque da Independência de manhãzinha de mão dada com ela. Estaria sendo um avô incrível pra minha filha. Temos uma cachorra chamada Ella (Fitzgerald), é da mesma raça que era Tutuca, mas é um tipo menor. Agora preciso ir porque o interfone tá tocando.

Você vai fazer falta no meu casamento.
Sinto saudade, pai. Tanta que às vezes dói demais.

Um beijo,
da sua Mariquinha.

Um comentário:

Vanessa Campos disse...

A escolha de casar é uma das mais fantásticas da vida. Eu acredito, sempre, que é um equilíbrio das quatro operações matemáticas, por menos romântico que isso possa parecer. Quando vim morar aqui, casei no susto, três anos depois, escolhemos casar com festa, bebida e amigos. Senti tua falta para abençoar, mas sei que estava lá. Tua carta é uma das mais lindas e me toca de uma profundidade porque sei exatamente a dimensão desse sentimento da saudade. Linda estréia, Tatit. Um beijo.